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"Negrum3", curta-metragem de Diego Paulino, trabalha a aceitação da pluralidade com uma abordagem livre da linguagem cinematográfica.

Não é fácil escrever sobre Negrum3. O curta-metragem dirigido por Diego Paulino serve de laboratório para o diálogo entre diferentes gêneros e subgêneros cinematográficos. O filme é composto por colagens narrativas que evidenciam o corpo preto e queer, se propondo a desconstruir uma mentalidade conservadora e reafirmada tanto na sociedade quanto no próprio cinema.

O cozimento do filme começa em fogo lento, com a imagem de um corpo preto e seminu visto em fundo escuro. Eric se comunica interagindo performaticamente com roupas dispostas em cabides, evidenciando a ocupação dos espaços e a relevância do corpo político. A reivindicação interpretativa de Eric atesta a luta das expressões plurais em meio a uma realidade utópica, onde o fenótipo e as roupas carimbam o preconceito à primeira vista.

A transmissão começa a sofrer interferências quando começam a aparecer glitches eletrônicos, como se a projeção estivesse sendo interrompida ou invadida, até que Negrum3 começa a ser conduzido por uma linguagem mista entre documentário e ficção científica.

cartaz de “Negrum3”, filme de Diego Paulino

O contraste da linguagem é alinhado com a representação do papel político e social de Eric no meio em que vive. Do menino que posou de batom para a foto de formatura, até o homem de vestido e peruca loira no metrô de São Paulo.

Em livre paráfrase de Eric, “a informação permite a transgressão”, no melhor sentido da palavra. O protagonista de Negrum3 sabe que seu corpo é afrontoso e, ao mesmo tempo, em que se empodera como instrumento de batalha, também se permite viver em comunhão afetiva, como ilustrado nas festas temáticas que frequenta durante as filmagens.

Na parte final, o filme se despe e distribui seu discurso político de forma mais direta do que na primeira parte, em um manifesto pelo corpo preto que surge como um combinado de número musical com peça publicitária.

Sobretudo, Negrum3 reivindica pela ancestralidade preta ao mesmo tempo em que ironiza a própria realidade. Com um multicolorismo pop kitsch e afro-futurista, bebe do repertório artístico de gênios como Basquiat e Sun Ra. A obra clama pela vida de lideranças pretas, como Martin Luther King e Marielle Franco, reforçando a coesão e o conhecimento da própria manancial racial.

O resgate de referências negras de diferentes épocas ilustra o patrimônio da ancestralidade como instrumento político na atual geração de pessoas pretas do Brasil. Assim, Negrum3 cria e é criado por meio de reinvenções técnicas, de forma que o curta-metragem tem um formato análogo ao discurso que propõe: a aceitação da pluralidade.

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