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"O Rastro" é um exercício de gênero do terror no cinema brasileiro que, tragicamente, soa genérico na forma que trabalha o horror.

No ano de 2015, o Governo Estadual do estado do Rio de Janeiro passou por uma enorme crise política e financeira, o que afetou no funcionamento de serviços essenciais como a saúde pública. O impacto negativo resultou em atrasos nos salários dos profissionais, mau funcionamento de algumas unidades de saúde, filas enormes e uma insatisfação coletiva. Luiz Fernando Pezão, Governador em exercício na época, chegou a decretar estado emergencial “setor dois” na situação. O Rastro, filme dirigido por J.C. Feyer, é construído a partir desse contexto, mas com indecisões rítmicas e muletas narrativas genéricas acaba prometendo mais do que entrega.

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A trama conta a história de João (Rafael Cardoso), jovem médico que supervisiona a transferência de 42 pacientes do Hospital São Tomé, que será fechado por falta de verba. Em meio ao processo, João percebe que uma menina sumiu e, assim, começa uma investigação ininterrupta buscando pela 43ª paciente do hospital. A garota começa a assombrá-lo e a fazer com que o personagem perca a sanidade, mergulhando na tenebrosa realidade do sistema público de saúde brasileiro.

O Brasil possui uma tradição subestimada no gênero do terror. Com o início da relevância partindo de José Mojica Marins até cineastas contemporâneos como Dennison Ramalho, Rodrigo Aragão, Juliana Rojas e Marco Dutra. Fora do cinema, o país também tem em seu repertório folclórico diversas lendas aterrorizantes que são dissipadas e transmitidas no corpo coletivo de forma geracional.

O Rastro tangencia a discussão sobre o gênero quando busca referências já consolidadas, em outros termos, o apoio excessivo nos elementos estilísticos já característicos do terror torna o filme genérico. Causa-se um efeito que em uma tentativa de assimilação imediata do espectador, o filme tem seu vigor dramático encolhido.

Os subtemas que acompanham o conflito principal são bem construídos e dão indícios otimistas sobre o desenrolar da trama. O protagonista exercita a véspera de sua primeira paternidade, o que o leva a se preocupar com sua esposa Leila (Leandra Leal). João sofre também com a influência de Ricardo (Felipe Camargo), representante do Governo Estadual, além do próprio governador Artur Azevedo (Domingos Montagner), em campanha para a reeleição. As associações políticas em um contexto macro levam o filme em uma confluência com o gênero do terror, pincelando temas como a corrupção no Brasil e a negligência com a saúde pública, vilanizando o próprio sistema, mesmo dentro da diretriz sobrenatural.

A indecisão do filme é materializada na medida em que apresenta virtuosismos carregados pelo excesso. O Rastro apresenta uma estética interessante que trabalha o contraste de cores frias dentro do hospital com o branco estourado aludindo ao calor infernal do Rio de Janeiro. O terror tropical, como o próprio diretor justifica o filme, traz uma aparência rebuscada, fazendo uso de pontos de vista subjetivos e descentralizados, mostrando iminentes ameaças apenas por meio de espelhos e jogos de sombras.

Os planos holandeses – quando se captura o ator com a câmera em um ângulo oblíquo – refletem os sentimentos conflitantes dos personagens, seja da esposa vulnerável, o médico petulante e o político com segundas intenções. O tecido sonoro ilustra a natureza apelativa dos recursos técnicos, seja pelos barulhos vindos da mixagem de som desbalanceada ou do uso recorrente dos jumpscares. A paranoia construída pelo som funciona em momentos em que os elementos diegéticos são trazidos para esse fim, como na manipulação do som da furadeira para gerar tensão dramática.

O cenário cinematográfico atual vem abraçando os filmes do horror, sendo muitos construídos em um contexto também politizado, como as produções americanas, japonesas, alemãs, iranianas e mexicanas. O Rastro traz uma autenticidade brasileira interessante a esse exercício de gênero, mas não inova nas ferramentas da linguagem, o filme cai em um abismo de inocências e acaba perdendo o rastro do terror brasileiro, cada vez mais forte e evidente no nosso cinema.

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