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"Sombra e Ossos", série da Netflix, entrega aos fãs uma aventura bem adaptada, repleta de fantasia e marcada pela sua produção arrojada.

“Sombra e Ossos”, série da Netflix, entrega aos fãs uma aventura bem adaptada, repleta de fantasia e marcada pela sua produção arrojada.


NNo dia 23 deste mês, chegou ao catálogo da Netflix a série original Sombra e Ossos, inspirado na trilogia Sombra e Ossos e na duologia Six of Crows, da autora Leigh Bardugo. Na trama, Ravka é um país que há tempos sofre com um problema que, aparentemente, é impossível de destruir: a Dobra, um território que dividiu o país em dois (Ravka Leste e Ravka Oeste) e é conhecido por ser perigoso e o lar dos volcras e da escuridão.

Neste universo de fantasia, o mundo de Ravka convive com os temidos Volcras (monstros) e os Grishas (pessoas com habilidades especiais). Os grishas são divididos em três classes principais, de acordo com suas habilidades: os corporalki podem manipular e controlar o corpo humano, os etherealki são capazes de manipular os elementos do ar, fogo e água, e os materialki podem manipular materiais compostos, sejam feitos pelo homem ou de origem naturais.

 

CONHECENDO RAVKA

No passado foram feitas várias tentativas falhas para acabar com a Dobra, de forma que os habitantes de Ravka vivem à espera de algum milagre. Enquanto esse momento não chega, o primeiro exército (formado por pessoas comuns) e o segundo exército (formado por grishas) realizam expedições para dentro da Dobra com o objetivo de estudar o local e atravessar o país.

Durante uma dessas travessias, somos apresentados a dois dos nossos protagonistas: Alina Starkov (Jessie Mei Li), uma cartógrafa do primeiro exército, e Maly Orestev (Archie Renaux), que trabalha como rastreador. Os dois são amigos de infância e cresceram juntos num orfanato, estabelecendo uma ligação muito forte.

Jessie Mei Li como Alina Starkov

Contudo, o que era para ser apenas uma travessia tranquila e sem maiores problemas acaba se transformando numa confusão, que faz com que Alina Starkov descubra ser uma grisha extremamente poderosa. A partir desse momento a vida da cartógrafa muda para sempre, sendo enviada para o Pequeno Palácio, onde ela vai poder treinar e desenvolver melhor suas habilidades.

Embora todos ao seu redor estejam em êxtase, Alina se sente infeliz com todas as mudanças que estão acontecendo em sua vida. A situação fica mais suportável com a presença de Genya (Daisy Head), uma grisha que é instruída a cuidar da conjuradora e que acaba desenvolvendo um forte laço de cumplicidade com ela. Além disso, General Kirigan (Ben Barnes) tenta mostrar para Alina como o poder dela é uma dádiva, além de tentar convencê-la a destruir a Dobra junto dele.

 

ALÉM DE RAVKA

Paralelamente a trama de Alina Starkov, Sombra e Ossos também desenvolve outros núcleos ao longo da narrativa. Um deles se passa em Ketterdam, em que o público é apresentado ao Crows Club, formado por Kaz Brekker (Freddy Carter), Jesper Fahey (Kit Young) e Inej Ghafa (Amita Suman). Juntos, os três são uma espécie de gangue que realizam diversos trabalhos em Ketterdam, de forma que eles recebem a missão de sequestrar Alina Starkov por 1 milhão de kruges.

Além deles, a produção também mostra o trabalho de Maly dentro do exército e como ele está se sentindo em relação à Alina, ou ao fato dela ser uma grisha. Acompanhamos, ainda, trajetória de Nina Zenik (Danielle Galligan), uma grisha, e Matthias Helvar (Calahan Skogman), um caçador de grishas, que são obrigados a colocar as diferenças de lado para conseguirem sobreviver após um acidente.

 

A PRODUÇÃO

Trabalhando com vários núcleos diferentes ao longo da trama, é natural que algumas narrativas de Sombra e Ossos tenham uma relevância maior do que outras. A produção, no entanto, consegue equilibrar tudo de acordo com a importância de cada um dos núcleos dentro da própria narrativa – com Kaz, Jesper e Inej roubando a cena em diversos momentos.

Com o anúncio da adaptação dos livros da Leigh Bardugo, os fãs ficaram bastante animados com a possibilidade de ver o universo que tanto amavam ganhar vida, apesar de ficarem receosos em como seria feita a união da trilogia de livros Sombra e Ossos com a duologia Six of Crows. No fim, a Netflix consegue entregar um trabalho surpreendente e que está conquistando diferentes públicos, não se limitando aos fãs do grishaverso.

Malyen Oretsev (Archie Renaux) e Alina Starkov (Jessie Mei Li)

É perceptível que houve um cuidado em reconstruir o universo de Bardugo da maneira mais fiel o possível. A construção dos cenários é surreal e, através da fotografia, é possível identificar quando as cenas se passam em Ravka, Ketterdan ou Fjerda. Os figurinos são bem feitos e trabalhados, de forma que é fácil notar os detalhes que carregam uma importância para os fãs – como é o caso das keftas dos grishas, ou os detalhes da bengala do Kaz.

Sombra e Ossos também conta com diversas cenas em flashback, permitindo que o público descubra um pouco mais sobre o passado entre Alina e Maly, e de como é forte o vínculo existente entre os dois. O seriado ainda explora o passado do General Kirigan, o que aumenta a complexidade desse personagem se comparado com o desenvolvimento dele nos livros, permitindo que o telespectador entenda a motivação por trás de suas ações.

Já em relação aos atores, todos entregaram um ótimo desempenho. Jesse Mei Li consegue explorar todos os sentimentos de sua personagem, da vulnerabilidade à solidão que Alina sente diante da mudança de vida. E apesar de, num primeiro momento, a atuação de Freddy Carter parecer um pouco caricata, o ator rapidamente entra no personagem de maneira espetacular.

Malyen Oretsev (Archie Renaux)

Nos livros, Kaz Brekker é bastante complexo, além de ser descrito como alguém mais frio e calculista. Através de olhares e pequenos gestos, Carter expressa todos os sentimentos de Brekker, além de ser inegável a química presente entre Kaz e Inej.  Além disso, da mesma forma que acontece no material original, Kit Young (no papel de Jesper Fahey) consegue ser o alivio cômico que Sombra e Ossos necessitava.

 

CONHECENDO O GRISHAVERSO

Lançado em 5 de junho de 2012 e inspirando-se na Rússia na época dos czares, Sombra e Ossos foi o primeiro livro escrito por Leigh Bardugo e o pontapé inicial do grishaverso. Com o lançamento dos livros, is leitores não só se fascinaram pelo mundo de Bardugo, como também pela trajetória de Alina Starkov, tema central das sequências Sol e Tormenta e Ruína e Ascensão.

Com o grishaverso estabelecido, em setembro de 2015 a autora lançou Six of Crows, o primeiro livro de sua nova duologia situada em Ketterdan, com o foco em novos personagens. Com um ambiente um pouco mais adulto e sombrio, além de tramas e personagens mais complexos, Leigh Bardugo fez com que as pessoas se apaixonassem por Kaz Brekker e sua gangue.

 

Impacto com fãs

Existem diversos motivos para que os leitores se sintam atraídos pelo grishaverso, como a complexidade do universo, os clichês bem trabalhados ou a construção de personagens. É nesse meio que encontramos o caso da escritora Emily Elizabeth Custódio, que descobriu o mundo de Leigh Bardugo ao acaso quando entrou encontrou um exemplar de Sombra e Ossos na livraria de sua cidade. Ela se lembra de que a capa do livro chamou sua atenção e a sinopse era diferente de tudo que ela conhecia – além do fato de Ravka ter sido inspirada na Rússia Czariana. Nas palavras da escritora, foi uma espécie de amor à primeira vista.

Para Emy, o que a conquistou durante a leitura de Sombra e Ossos foi a inspiração da história, por ser um livro de fantasia que não é baseado na Europa Medieval. Além disso, a técnica de escrita e o worldbuilding da Leigh Bardugo foram outros elementos que despertaram a sua atenção.

Enquanto a trilogia Sombra e Ossos marcou a vida de Custódio por ter sido uma das primeiras fantasias épicas que leu, além dos livros terem lhe ajudado em uma época complicada de sua vida, a relação da escritora com Six of Crows é diferente.  Apesar de ter um amor gigante pelo universo e pelos personagens, em especial por Kaz Brekker, a duologia lhe causou uma epifania.

“Quando fechei o livro a primeira vez que li, lembro-me perfeitamente do meu pensamento: é esse o tipo de história, o tipo de livro, que quero escrever. E como autora, ter esse momento de realização e epifania é algo realmente grandioso e importante. Não é todo dia que você termina um livro e pensa isso. Você pode se divertir e até se apaixonar pela história e virar um favorito, mas pensar que ‘esse é o tipo de história que você quer escrever’ é algo que transcende.

Assim como os outros fãs do grishaverso, Emy também estava com grandes expectativas para a adaptação da Netflix., principalmente por Leigh Bardugo se mostrar tão apaixonada no resultado da produção televisiva seriada. “Você vê como todos envolvidos são realmente fãs do universo que estão adaptando (o elenco e produção tão sempre citando passagens dos livros), e como eles tem um respeito enorme pela Leigh Bardugo, o que é algo raro de se ver nas adaptações”.

E o sentimento de Emy é verídico. Mesmo existindo algumas mudanças entre os livros e a série, é perceptível um grande carinho e respeito por parte da produção em relação ao universo fantástico criado por Leigh Bardugo. Sombra e Ossos é uma surpresa para as pessoas que não conheciam esse universo, e um grande presente para os fãs que aguardaram por tanto tempo pela adaptação.

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