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“Sense8” termina a sua jornada com um sentimento de ciclo fechado, com personagens e histórias bem construídos e uma carta de adeus aos fãs.


Se é que alguém ainda não conhece o fenômeno geracional que se tornou, Sense8 é uma ficção científica criada e roteirizada por Lilly e Lana Wachowski e produzida pela Netflix. A série conta a história de oito jovens sensates que levavam vidas completamente diferentes uns dos outros, mas todas dentro da normalidade até um determinado momento. Eles percebem que têm uma conexão entre si quando têm a visão da morte de Angélica (Daryl Hannah). É aí que se manifesta essa ligação mental e emocional, que os permite tomar o lugar do outro e ficar juntos, mesmo que não estejam fisicamente no mesmo lugar.

https://www.youtube.com/watch?v=VX-TnKoivR8

Will (Brian J. Smith) é um policial de Chicago. Capheus (Aml Ameen, na 1ª temporada, e Toby Onwumere, na 2ª), que vive em Nairóbi e transporta as pessoas em uma van. A DJ islandesa Riley (Tuppence Middleton), que vive em Londres e parece não andar bem acompanhada. O astro mexicano Lito (Miguel Ángel Silvestre), que esconde sua homossexualidade, temendo que essa revelação arruine sua carreira. Sun (Bae Doona), uma empresária que vive em Seul, além disso, é uma exímia lutadora das horas vagas. A hacker Nomi (Jamie Clayton), que acabou de passar por uma cirurgia de redesignação sexual e enfrenta problemas familiares por isso. Wolfgang (Max Riemelt), um ladrão alemão, prestes a dar um grande golpe e Kala (Tina Desai), uma farmacêutica indiana, que está prestes a se casar segundo as tradições de seu país.

Juntos, eles tentam descobrir mais sobre essa conexão e começam a perceber que podem se ajudar em situações cotidianas. Para isso, os jovens contam com a ajuda de Jonas (Naveen Andrews), que é de outro cluster (grupo de oito sensates). Em meio a todas as descobertas, eles também têm que fugir de Whispers (Terrence Mann), que tenta caçá-los a fim de exterminá-los.

Sense8 é uma série que se utiliza de recursos narrativos riquíssimos e traz fortes emoções ao espectador em cada um de seus episódios. A originalidade da trama chama a atenção, uma vez  que é diferente de tudo o que já se viu antes. A densidade da narrativa faz com que os detalhes sejam algo extremamente importantes e para além disso, a sensação é de que se a série fosse dividida em oito novas produções, ainda assim os assuntos não se esgotariam.

O episódios trazem o ponto de vista de cada um dos personagens, dando um panorama interessante de todos os fatos narrados e nos mostrando a completude das vivências. Ao mesmo tempo, eles podem interagir uns com os outros, o que rende impressionantes cenas de ação, uma vez que sensates  conseguem compartilhar e transmitir ao cluster suas habilidades e emoções. A relação dos  membros do cluster é apresentada de forma muito natural, reforçando a mensagem de que, mesmo em em meio a adversidades, ninguém está sozinho no mundo.

Trazendo um elenco muito diverso, diferentes culturas e lugares do mundo são retratados ao longo da narrativa. Com uma fotografia impecável, podemos conhecer um pouco do lugar onde vive cada um dos sensates. Alemanha, Coreia do Sul, México, Estados Unidos, Índia, Quênia, Islândia e Inglaterra são os cenários que servem de pano de fundo para o desenrolar da história.

O que contribuiu muito para Sense8 ganhar o coração dos fãs, foi o fato de trazer representatividade, além de uma gama assuntos que vêm sendo muito discutidos em nossa sociedade. A cena inicial da série já traz uma cena que aborda tanto a homossexualidade quanto a transexualidade. Em outros momentos, traz cenas que podem ser consideradas muito apelativas por alguns. A narrativa trata de temas delicados, que trazem consigo muitos conflitos.

Para a segunda temporada, o elenco de Sense8 veio ao Brasil para gravar algumas cenas durante a Parada do Orgulho LGBTQ+ de São Paulo

São abordados temas como desigualdade social, intolerância religiosa, transexualidade, machismo, LGBTfobia e relacionamentos abusivos. Além de trazer assuntos relacionados a questões psicológicas, sociais e existenciais. Entretanto, a grande mensagem que fica é que as minorias se tornam fortes quando unidas.

 

Cancelamento e Comoção

Sense8 estreou sua primeira temporada na Netflix em junho de 2015, com 12 episódios. Em 8 de agosto do mesmo ano, a data do aniversários dos sensates, foi confirmada a segunda temporada. Antes do lançamento da mesma, foi ao ar um episódio especial de natal, com duração de duas horas, em dezembro de 2016. A segunda temporada, chegou à plataforma em maio de 2017,  e um mês após seu lançamento, a Netflix anunciou o cancelamento. O motivo seria a baixa audiência, frente ao alto custo de produção da série.

Com o anúncio, houve uma grande mobilização dos fãs, sobretudo brasileiros. A internet foi tomada por discursos indignados e hashtags pedindo a volta da série, além de e-mails, cartas e até abaixo-assinados. Os fãs indignados chegaram a enviar para a concorrente do streaming, Amazon Prime, um par de chinelos com as palavras “renove Sense8”. A intenção era fazer com que a mesma comprasse os direitos e desse continuidade à história.

Diante disso, a Netflix anunciou a criação de um episódio final, dando um fim à narrativa e respondendo as questões que ficaram após o fim da segunda temporada. No último dia 8 de junho, esse episódio chegou ao streaming, para alegria dos fãs.

http://https://www.youtube.com/watch?v=Hx3BP4yGl5g

Amor Vincit Omnia (O Amor Conquista Tudo, traduzindo) é um telefilme. O episódio final tem duas horas e meia e missão de encerrar dignamente a história dos jovens sensates, agradando ao público consternado diante do cancelamento. A pressão sobre a produção era grande e o episódio foi produzido em um período de tempo relativamente curto, se comparado às duas temporadas anteriores.

Apesar de ser cheio de detalhes, uma marca registrada da série, o episódio resolve grandes problemas em cenas rápidas, diante da complexidade das situações. A intenção, claramente, era agradar ao público. O episódio é muito dinâmico, e apesar de ser longo, é quase impossível pensar no tempo diante do bombardeio de informações que saltam da tela.

A principal preocupação do cluster era resgatar Wolfgang, que foi sequestrado, no final da segunda temporada, pela misteriosa OBP, uma agência secreta que caça e faz experimentos no sensates. Além dos conflitos familiares de Sun e Nomi, o casamento de Kala e a carreira de Lito, que continuou sem resposta.

Alguns personagens que tinham maior “urgência” em ter suas situações resolvidas, como Kala, Wolfgang e Sun foram colocados em maior destaque, enquanto outros como Capheus e Lito ficaram praticamente esquecidos. Em alguns momentos, os coadjuvantes parecem ser mais importantes do que os protagonistas.

Apesar de ter sido satisfatório, o capítulo final tem furos e até força um final para a história. Os vilões são fracos, informações que poderiam render muito são apenas pinceladas e algumas cenas deixam a impressão de que o capítulo se arrasta, dando ênfase a situações pouco interessantes e resolvendo grandes problemas com soluções muito simples.

O episódio final cumpriu seu papel: deu aos fãs o final feliz tão esperado. Fica claro que a série se tratava de algo muito maior do que realmente foi, é uma pena que tenha sido cancelada tão precocemente. É fato que Sense8 realmente tinha potencial para, pelo menos, mais duas temporadas. A sensação de perda é o que fica.


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