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Subindo o sarrafo de seu primeiro ano, “Bom Dia, Verônica” tem uma segunda temporada mais coesa e ainda mais impactante.


AApós abalar os espectadores com a violência doméstica e agressões às mulheres mostradas de forma nua e crua, a série Bom Dia, Verônica, da Netflix, trouxe ainda mais faces de abusos na segunda temporada.

 

O Enredo

Baseada no livro homônimo de Raphael Montes e Ilana Casoy, a história tem como protagonista Verônica Torres (Tainá Müller), uma escrivã policial da delegacia de homicídios que se depara com o perverso mundo da violência contra as mulheres. Na primeira temporada, ela conhece Janete Cruz (Camila Morgado), uma dona de casa que sofre diversos tipos de agressões do marido, Cláudio Brandão (Eduardo Moscovis), e ainda é obrigada a presenciar barbaridades que ele comete contra outras mulheres. Enquanto investiga o caso, ela percebe que a polícia está repleta de pessoas que se compactuam, cometem e até mesmo lucram com esses crimes.

Verônica acaba mergulhando em um universo que nem imaginava existir e sua vida começa a ficar em risco. Para conseguir continuar investigando e proteger sua família, ela forja a própria morte e percebe que há poucas pessoas no mundo que pode confiar. É dessa maneira que termina a primeira temporada. Clichê, mas funciona para que a trama siga.

 

Um Novo Bom dia

Na segunda temporada, as mulheres seguem como vítimas, mas de uma maneira diferente. Matias Cordeiro (Reynaldo Gianecchini) é um líder religioso que promete curar as pessoas, às vezes com uma bênção e dando uma espécie de pastilha – bem similar à ideia da hóstia – ou, em casos que ele julga mais graves, hospedando em sua casa para um “tratamento intensivo”. Tendo uma noção da abordagem da série, nem precisa dizer que ele recebe apenas mulheres e que a tal “cura” é repugnante.

Ao lado de Matias temos Gisele (Camila Márdila), sua esposa, e Ângela (Klara Castanho), a filha do casal. O trio se mostra como uma família de comercial de margarina e, com isso, é possível notar outra face da violência: a manipulação e submissão são tão profundas que as vítimas colaboram com as agressões e não enxergam que sejam um problema.

No desenrolar dos episódios, Verônica começa a ligar os pontos entre Matias e Brandão e perceber que as descobertas da primeira temporada foram só a ponta de um iceberg sinistro e brutal.

Bom Dia, Verônica mostra toda a violência e não é para quem tem estômago fraco. Não dá para assistir e ficar ileso às perversidades e o quão ruim o ser humano é.

É bem doloroso de ver. Enquanto a primeira temporada tem mais sangue, a segunda segue um caminho da violência mais sutil e com alguns momentos pontuais de brutalidade. Colocar a manipulação da fé das pessoas vinda de uma figura de poder é muito potente no Brasil que vivemos hoje, principalmente se tratando de uma produção nacional.

Antes de assistir, a escolha de Gianecchini como o vilão me deixou com uma pulga atrás da orelha. Como seria um galã interpretando um abusador? Pois bem, logo notei um ponto importante e que desbancava meu pensamento: abusador não “tem cara”. O criminoso pode ser bonito e charmoso. Gianecchini fez um personagem extremamente carismático, com um sorriso alegre e alto astral que chegam a dar agonia. Ele não precisou ser grosseiro e sua agressão caminha de maneira perversa e suave ao mesmo tempo.

Camila Márdila e Klara Castanho também conseguiram compor com excelência a dinâmica familiar claustrofóbica. Enquanto Camila mostra uma personagem silenciada e aparentemente conivente, mas com dor e medo no olhar, Klara desenvolve uma garota genuinamente inocente, mas cuja curiosidade vai aflorando e dando margem para dúvidas, questionamentos e arrependimentos sobre tudo o que viveu.

Tainá Müller, assim como na primeira temporada, é excelente. Uma grande heroína e muito corajosa, mas que também tem falhas, receios, desejos e não deixa de lado a vontade de se vingar. Não precisamos de personagens perfeitas – mas não vou dizer que ela é “gente como a gente” porque claramente está bem acima da média.

Apesar de ter gostado muito da temporada, senti que a história aconteceu rápido demais. Não teve o ar de suspense que um thriller geralmente segura entre os fatos e descobertas. As informações chegam e já são desvendadas antes que se tenha digerido as anteriores. Sou contra séries muito enroladas, mas também não precisa de tanta velocidade.

Por mais que tenha algumas falhas pontuais, Bom Dia, Verônica é uma série excelente e mostra como as produções nacionais do gênero estão ficando mais fortes e mostrando seu lugar no entretenimento.

KLARA CASTANHO
Depois que a gravidez de Klara Castanho foi exposta e a atriz relatou que foi vítima de abuso, a produção optou por tirar as cenas de violência explícita para preservá-la. Como essa versão não foi divulgada, não é possível dizer se teve alguma influência no desenrolar dos episódios. Contudo, como o intuito era proteger a atriz, não vejo nenhum ponto negativo nessa decisão.

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