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O inquebrável mundo de Kimmy Schmidt e o fim de uma fascinating transition

“Unbreakable Kimmy Schmidt” mostra que é possível carregar um humor ridículo até o fim – e da forma mais inteligente possível.


Primeira série de comédia a ser encomendada pela Netflix, Unbreakable Kimmy Schmidtchegou ao seu fim em 2019. Criada por Tina Fey e Robert Carlock, a sitcom carrega um humor absurdo tratado através da inocência da protagonista, uma personagem caricata que, após anos presa em um bunker, precisa se adaptar a realidade de ser uma adulta. Durante toda sua jornada, assistimos lembranças de nossa própria transição serem interpretadas teatralmente por Ellie Kemper.

https://www.youtube.com/watch?v=5GjMKia7J2E

O bizarro humor de Fey é espertamente usado para diversas criticas sociais ao longo da série, que nos apresenta também à Titus Andromedon (um homem negro gay que fugiu de seu casamento heterossexual para viver seu sonho de ser ator em Nova Iorque), Jacqueline White (uma “nativo-americana” que busca se encaixar em uma sociedade racista e ganhar reconhecimento por seu esforço) e Lilian (uma polonesa que luta pela não gentrificação do bairro em que vive há 40 anos). É claro que, assim como a protagonista, todos esses personagens são tratados da maneira mais estereotipada possível.

Da esquerda pra direita: Jacqueline, Kimmy, Titus e Lilian

Mesmo com uma premissa tão diferente, sempre esteve claro de que em algum ponto Kimmy terminaria sua fascinante transição e se tornaria uma adulta normal, ou o mais normal quanto é possível para uma Mulher Toupeira. E é disso que se trata a quarta temporada, o fim da inocência de Kimmy e o aumento de sua compreensão da vida adulta. Como já havíamos acompanhado no começo da temporada, a personagem busca agora impedir que os garotos se tornem homens como Richard Wayne, o reverendo que a sequestrou quando criança.

 

Inquebrável

Mesmo com um humor muitas vezes visto como fútil, Unbreakable Kimmy Schmidt consegue carregar muito bem os seus personagens ao longo das quatro temporadas. Com um roteiro leve e muito bem definido, a obra cumpre seu papel ao tratar de assuntos sérios, como os assédios em Hollywood e desigualdade de gênero, utilizando do seu enredo para mostrar que, assim como uma mulher adulta com uma mochila falante, é incoerente que escândalos como esses ainda aconteçam em pleno século XXI.

Nada disso seria possível, é claro, sem a interpretação de Ellie Kemper, que ao entrar na personagem, consegue arrancar risadas com sua inocência e dar alegria até mesmo à pessoa mais ranzinza do mundo. Além disso, a atriz se mostrou perfeita enquanto interpretava uma Kimmy alternativa, no maior e talvez melhor episódio de toda a série, Sliding Van Doors. Após apenas quatro temporadas, é impossível olharmos para Ellie e não sentir vontade de abraçar a personagem mais doce e carismática das sitcons.

Seu companheiro de elenco, Tituss Burgess, também é um dos responsáveis pelo humor série, mantendo o jeito estranho e egocêntrico de Titus Andromedon até o final. A produção da Netflix com certeza não seria a mesma sem os marcantes momentos do personagem que sempre tinha uma canção para tudo – incluindo uma nova versão do aclamado álbum Lemonade, da cantora Beyoncé, que ganha um episódio inteiro na terceira temporada. Mesmo sem um marcante ato neste resto de temporada, tivemos a oportunidade de ver o ator em ação em seu ambiente natural: a Broadway. O momento garanta um ponto muito marcante para a produção, considerando que desde o começo o público vem sendo preparado para a chegada da grande chance de Titus.

Embora Unbreakable Kimmy Schmidt tenha trabalhado muito para desenvolver seus personagens, seu final acabou desapontando muito no assunto. Mesmo com uma mudança completa na vida dos personagens, suas personalidades infantilizadas continuaram as mesmas. Kimmy continua vivendo em um mundo de doces e de boas ações, ainda que tantas vezes tenha visto que as coisas não são simples e as pessoas nem sempre são boas com ela. No mesmo passo, Titus continua com seu egocentrismo, Lillian com seu medo de mudanças e Jacqueline em busca de sua escalada social.

O mais triste de toda essa situação é que, por alguns momentos, acreditamos que os personagens estejam completamente desenvolvidos e livres dos piores aspectos de suas personalidades. Não demora muito para que isso seja tirado de nós, com a série devolvendo os mesmos personagens de antes, apenas com vidas mais bem sucedidas em um mundo de fantasias. É claro que em certo nível pode até ser satisfatório ver que personagens que sofreram tanto alcançaram seus objetivos, mas a sensação de uma transição incompleta não some totalmente quando os últimos segundos do último episódio chegam. Kimmy é, de fato, inquebrável – e nada pode mudar seu jeito de ver o mundo.

Mesmo com uma falha tão grande, vale à pena assistirmos os últimos seis episódios de Unbreakable Kimmy Schmidt? Sim. Afinal de contas, ninguém acompanhou a série durante todos esses anos para poder ver a elaboração de um super enredo, mas sim para acompanhar as situações absurdas que toda a bondade e inocência da protagonista a coloca. É graças ao seriado que, mesmo que por 30 minutos, podemos fugir da realidade de nossas próprias vidas e do ceticismo do dia-a-dia, enxergando uma perspectiva de uma realidade melhor. E nisso, Kimmy não nos desaponta em momento algum.


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