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Apesar de erro com a Title, "STICKER" acaba sendo mais um trabalho arrojado do NCT 127, que segue mostrando diferentes e concisas cores.

Apesar de erro com a Title, “STICKER” acaba sendo mais um trabalho arrojado do NCT 127, que segue mostrando diferentes e concisas cores.


TTalvez um dos grupos de conceito mais ambicioso do K-pop, o NCT merece certo destaque. A sigla, que vem de Neo Culture Technology (algo como Nova Cultura Tecnológica), é um projeto guarda-chuva que abriga quatro sub-unidades (NCT 127, NCT DREAM, NCT U e WayV) e totaliza a inclusão de 23 integrantes.

Sob a ideia de se adequar à “cultura de conteúdo” da SM Entertainment e abranger integrantes coreanos de diferentes partes do mundo, o grupo debutou em 2016 com a sub-unidade NCT 127 — o numeral representa a longitude de Seul, na Coreia. Atingindo estabilidade no mercado coreano e sendo dono de alguns hits e recordes, o grupo da terceira geração de K-pop é formado por Taeyong (sul-coreano; Líder), Taeil (sul-coreano), Johnny (estadunidense), Yuta (japonês), Doyoung (sul-coreano), Jaehyun (sul-coreano), Jungwoo (sul-coreano), Mark (canadense) e Haechan (sul-coreano).

Seis mini-álbuns, dois relançamentos e quatro Full Albums formam a discografia do NCT 127, que em setembro lança o Full STICKER. O compilado, que é mal apresentado pela sua faixa-título, chega ao público com a promessa de dar continuidade à história sonora do NCT: estar potencialmente um passo a frente e brincar com elementos que definem diferentes gêneros do escopo musical.

 

Adesivo Sem Cola

Soando como uma tarefa difícil de ser executada com precisão, as músicas carro-chefes vem para mostrar ao público o que esperar daquele respectivo álbum. Possivelmente como uma sacada certeira, para o K-pop tal tarefa torna-se menos complexa uma vez que essas faixas (conhecidas como Titles) são entregues apenas do dia de lançamento do disco — diferente do que acontece no ocidente, onde tal música chega com um ou dois meses de antecedência. Mas, considerando que elas ainda servem como uma porta de entrada para os curiosos, STICKER começa a sua jornada com o pé errado.

Tudo começa porque a batida da Title Sticker parece ser um projeto altamente experimental, em um instrumental ultra minimalista marcado pelo apito rítmico de uma flauta que segue por toda a faixa. A presença do instrumento de sopro promete e funciona muito bem nos primeiros dez segundos — ou até mesmo durante os primeiros versos proferidos por Taeyong. Mas as coisas começam a desandar muito rápido.

Da esquerda pra direita: Johnny, Yuta, Jaehyun, Jungwoo, Mark, Taeyong, Taeil, Haechan, Doyoung

Por ser um instrumental ultra-mínimo, a batida e a track vocal de Sticker estão em constante dissonância, como se ambos fossem duas faixas diferentes que foram colocadas juntas de última hora. O BPM não acompanha a cantoria, e o conceito “sexy, rítmico, e de hip-hip dançante e energético” cai por terra. Ainda, em um determinado momento, a Title faz uma breve mudança no instrumental que parece anunciar uma explosão que nunca vem, apenas retornando à flauta minimalista que dá uma caracterização quase a capella para a música.

Em contra partida, há interessantes camadas nos vocais altamente influenciados pelo Soul e R&B da faixa — destaque especial para os momentos que as vozes de Haechan e Doyoung surgem no refrão e na ponte. No refrão, por exemplo, Sticker emerge um vocal que muito lembra um adesivo sendo lentamente descolado, cuja letra, de acordo com o grupo, fala sobre aquele alguém que é o centro do seu universo em meio ao atual cenário mundial.

O clipe também é um trabalho arrojado. Por mais que a música em si seja uma estranha e não-habitual produção sonora, o audiovisual traz uma superprodução divertida e hipnotizante marcada por visuais e cowboys descolados em cores vibrantes. A coreografia ajuda a manter a ideia do “adesivo descolando” e, para o refrão, mostra passos corporais controlados que parecem estar em câmera lenta, e em outros momentos ilustram o lado sensual por trás dos vocais.

O problema maior no lançamento da title de STICKER é que nada cola muito bem. Batida e vocais estão em dissonância, e o clipe também não traduz muito bem o conceito por trás da música como um todo — mesmo sendo visualmente bem produzido. No final, Sticker é um projeto que talvez tenha funcionado muito bem no papel, mas que apenas soa estranha, confusa e complexa demais quando jogada ao mundo.

 

Faça Limonada

Problemas com a Título a parte, STICKER é um álbum bem redondo. A arrojada produção traz para o NCT um Full influenciado fortemente pelo Pop-R&B, apresentando ao público faixas suaves e cheias de Soul no meio de algumas tracks dançantes e mais dinâmicas. Um dos grandes destaques é Lemonade, que pode muito bem ser apresentada como a “Title Moral” do compilado.

Dinâmica e de conceito bem trabalhado, a produção inicia com os suaves vocais hipnotizantes de Haechan e que logo são trocados pela voz sensual sussurrante de Jaehyun, que adiciona velocidade à batida e antecede seu clímax no pré-refrão com as vozes do grupo. O refrão é então estabilizado por uma batida que muito lembra um trap à lá NCT e ganha destaque pela sua divisão de papéis.

Acontece que o refrão repete três vezes, e em cada circunstância ele é alternado por diferentes combinações entre membros. Assim, cada parte tem uma identidade própria e distinta. Na primeira repetição o refrão é mais descolado e o destaque fica para quando Johnny e Doyoung dividem as linhas da segunda metade da estrofe, trazendo uma surpreende harmonia vocal que deixa uma impressão no ouvido. A segunda tem um tom mais eminente e poderoso, graças ao trabalho de destaque de Mark, que carregar a primeira metade. A última repetição é mais sensual, puxada pelos versos de Jaehyun e o vocal mais falsetto de Haechan.

Ao fim de seus pouco mais de três minutos, marcado por um ar de refrescância que explora e combina muito bem os diferentes tons e técnicas dos integrantes, Lemonade sumariza melhor o que esperar do STICKER e prova estar mais próximo daquilo que Sticker não foi capaz de ser.

 

Rítmo e Alma

As batidas dinâmicas seguem com Breakfast, Far e Bring the Noize, que levam o grupo a trabalhar em ritmos mais baseados no House e EDM. Destas, Breakfast é a mais marcante e a com maior potencial para ser uma das grandes favoritas do disco. Far já não traz tanta novidade assim, enquanto Bring the Noize é um hip-hop automobilístico quase tribal carregado de instrumentos pesados e que fica muito interessante na sua segunda metade.

Focus, por outro lado, é uma faixa sensual que se adapta muito rapidamente ao ouvido e causa devido impacto ao apostar no R&B puro, falsettos bem controlados e vozes de mel que mescla naturalmente os versos da Rap Line do grupo. É uma produção que muito lembra algo que BAEKHYUN, do EXO, entregaria em um de seus álbuns, demonstrando o potencial e talento por trás dos vocais do NCT 127.

Tal trabalho de flertar com gêneros mais “Soul-ificados” e hipnotizantes vocais potentes controlados segue com as produções finais da tracklist. Enquanto The Rainy Night e Magic Carpet Ride apostam na melancolia para ilustrar os seus envolventes conceitos, Road Trip e Dreamer focam em conversar diretamente com o NCTizens (nome dos fãs do grupo) em uma faixa cujo conceito “meninos apaixonantes cheios de carisma borbulhante” é perceptivelmente audível. Por fim, Promise You fecha o STICKER como se estivéssemos ouvindo a música final de um show — aquela faixa de despedida cheia de batidas otimistas que recebem os balões caindo do céu e os canhões de confete, enquanto os integrantes se divertem em danças improvisadas e interações divertidas.

 

O Fim da Viagem

Não sendo inteiramente perfeito por um deslize ambicioso demais, STICKER termina com um saldo bastante positivo para a cota final do álbum e para a constante prova de evolução da sub-unidade. Seja um NCTizen ou apenas um ouvinte curioso, o disco consegue deixar impresso o manifesto pelo qual o nome NCT 127 existe e é capaz de mostrar ao público o que faz deles um grupo de trendsetters do K-pop.

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