fbpx

“DOCE 22”: um retrato forte e frágil de Luísa Sonza

Em "DOCE 22", Luísa Sonza mostra maturidade como uma artista capaz de encontrar sensibilidade na dor de suas vivências pessoais.

Em “DOCE 22”, Luísa Sonza mostra maturidade como uma artista capaz de encontrar sensibilidade na dor de suas vivências pessoais.


OOs últimos tempos não têm sido fáceis para Luísa Sonza. Quando casou com o comediante Whindersson Nunes, em fevereiro de 2018, ela era constantemente chamada de interesseira, numa suposição (errônea) que ela só estava com ele pela fama e dinheiro. Após o fim do casamento, em abril de 2020, os haters na internet a atacaram, novamente por deduções, de que ela havia traído o ex-marido com o cantor Vitão. De interesseira, ela virou vagabunda.

Em maio deste ano, quando o filho de Whindersson com a atual companheira, Marina Lina, nasceu prematuro de 22 semanas e não resistiu, a gaúcha novamente foi atacada, como se tivesse alguma relação com o assunto. Os internautas a culparam, comentaram “está satisfeita?” em suas fotos ou perguntando se ela estava “feliz” com a situação. Com todos os ataques e ameaças, Luísa afastou-se das redes sociais e foi passar um tempo no México com o atual namorado, Vitão.

Depois da pausa, veio uma novidade: o lançamento do seu segundo álbum em estúdio. DOCE 22 estreou no dia 18 de julho, data em que Luísa Sonza completou 23 anos. Produzido durante 14 meses, o disco é um retrato de tudo o que viveu no último ano.

 

Capa do álbum

DOCE 22

Dividido em lado A e lado B, DOCE 22 mostra uma dualidade de opostos. O lado A é animado, sensual, dançante e cheio de confiança. O “oposto B”, por outro lado, traz angústia e muita vulnerabilidade, vindo de uma Luísa que ainda não tinha sido mostrada. Sem filtros e com muita coragem, a cantora explode as emoções mais íntimas em suas canções.

 

Lado A

A primeira música, INTERE$$SEIRA, começa com diversas ofensas que são dirigidas à Luísa Sonza. Os primeiros versos (“Puta, vagabunda, interesseira / Eu fazendo meu trabalho / Escutando só besteira / Sem talento, sem graça, forçada”) retratam a imagem que muitas pessoas construíram sobre ela, contudo, não é um recorte apenas sobre sua vida. Mulheres, de forma geral, são constantemente nomeadas com esses rótulos, principalmente aquelas que não se calam. Apesar de ser um grande desabafo, a letra também carrega força, poder e autoconfiança, numa maneira excelente de iniciar um álbum com sentimentos tão complexos.

Na sequência, V.I.P *-*,em parceria com 6LACK vem com seu padrão de músicas energéticas e dançantes, e segue no mesmo fluxo da terceira música, MODO TURBO, um featuring com Anitta e Pabllo Vittar, que já tinha sido lançada anteriormente. Depois, temos 2000 s2, que é possivelmente a mais sexy de todo o álbum. Provocante e agitada, faz referência à música pop dos anos 2000, ou, mais especificamente, à Britney Spears.

 

Sempre me identifiquei com a Britney e a história dela, em relação ao que a mídia fez com ela… Ela me inspirou em vários momentos do ano passado. Muitas vezes as pessoas falaram que o que eu estava passando parecia com o que a Britney tinha passado. Ela me deu muita força para passar por tudo isso e eu dou toda a força energética do mundo para ela. Me identifico com a dor e me compadeço. Ela é uma inspiração na música também e estou fazendo uma homenagem a ela e outras cantoras pop, que me influenciaram na música.

SONZA PARA A REVISTA QUEM.

 

A música seguinte, MULHER DO ANO XD, segue com a pegada sensual, provocante e energética e, logo após, vem o INTERlude :(), que vira o álbum de ponta cabeça. Na faixa, Luísa faz um discurso sobre como o amor, ou melhor, o jeito como as pessoas amam, é capaz de quebrar alguém por inteiro.

 

 

Lado B

O lado B começa com melhor sozinha :-)-: que, num ritmo mais lento, traz tanto uma pegada de romance quanto as inseguranças de confiar e começar um novo relacionamento. Em seguida, vem penhasco., uma grande referência ao ex-marido – uma faixa que virou tendência e está entre as mais ouvidas do Spotify Brasil, tendo sido a segunda música mais ouvida em 24 horas no dia 22 de julho. Na letra, ela retrata todo o esforço que fez para manter o relacionamento e como a separação foi dura.

Durante muito tempo, Luísa Sonza foi colocada como a “vilã” do casamento, entretanto, em maio deste ano, Whindersson manifestou-se em suas redes sociais dizendo que não houve traição e que ele pediu o divórcio, e não o contrário. Independente do que aconteceu, os dois são muito discretos sobre o relacionamento, mas foi a cantora quem pagou mais caro por todas as suposições feitas, virando alvo de ofensas enquanto o ex-marido recebeu piadas sobre “ser corno”.

Ainda que os dois tenham sofrido, o tratamento de ódio direcionado à Luísa foi mais forte e contínuo. Uma situação dessas diz muito sobre o mundo atual, com todos os cancelamentos e a banalização dos insultos na internet. Mesmo se o casamento tivesse terminado por uma traição ou outro escândalo, nada justifica chamar uma mulher de vagabunda ou desejar a morte do filho de alguém.

Mas voltando ao álbum, em caos / flor *** a cantora mostra a dicotomia presente num relacionamento com pessoas de personalidades diferentes, com um quê de “os opostos se atraem”. Na música, Luísa Sonza admite que a chegada de uma nova pessoa pode bagunçar bastante, mas que isso não é necessariamente algo negativo.

A penúltima canção é o conto dos dois mundos (hipocrisia), que se baseia na diferença entre a vida tranquila que ela levava antes da fama, quando morava no Rio Grande do Sul. Através das palavras, Luísa confessa que não se encaixa na realidade em que vive agora, principalmente por ter sido alvo de tanta maldade na internet, e também na rua.

DOCE 22 termina com também não sei de nada 😀, em parceria com Lulu Santos, que retrata as intermináveis brigas e como as pessoas estão falando muito, mas sem ouvir o próximo. Ainda, das 14 faixas do álbum, três já têm título, mas estão como indisponíveis no Spotify. CAFÉ DA MANHÃ 😛, com Ludmilla, e ANACONDA *o*~~~~, com Mariah Angeliq, são do lado A, enquanto fugitivos 🙂, com Jão, está no lado B. Ainda não há data para o lançamento dessas músicas, o que mostra-se como uma das estratégias de marketing para o disco.

https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mJf-RmuJrhzGzmvUO6vqeU7U4j89OzMBs

 

Saldo Final

Além da composição, Luísa Sonza também produziu e dirigiu os clipes de INTERE$$EIRA e V.I.P *-*, que foram lançados junto com o álbum, com conceito e estética definidos por ela – e acredito que não poderia ser de outra maneira. Ela colocou tanto de si e mostrou-se, com todas as vulnerabilidades, inseguranças e receios, sem filtros ou máscaras, que não faria sentido que outra pessoa moldasse como DOCE 22 seria apresentado.

O álbum é uma viagem, uma mistura de sentimentos e um convite para compreender melhor todos os lados da artista e os altos e baixos que vêm marcando sua trajetória. DOCE 22 é o tipo de disco que você sente várias coisas ao mesmo tempo, se identifica com várias letras e consegue enxergar uma fragilidade extremamente corajosa por trás de toda a história.

Compartilhe

Twitter
Facebook
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Pocket
relacionados

outras matérias da revista

Crítica
Giulio Bonanno

Crítica / “Midsommar: O Mal Não Espera a Noite”

Poucas experiências cinematográficas me levaram a tantos sentimentos paradoxais como Midsommar (no Brasil, ganhou o subtítulo “O Mal não Espera a Noite”, rs). Em pouco mais de duas horas de projeção, fui pego por episódios de angústia, repulsa e desespero. No meio disso, senti conforto. Senti resolução. Não sei bem quais são as intenções de Ari Aster, diretor do longa. Há uma confiança depositada na simbologia, um apelo à mitologias pagãs, mas… que discussão de fato ele quer trazer? Enquanto Dani Ardor (Florence Pugh) digere a notícia de uma perda familiar, descobre que Christian (Jack Reynor), seu namorado, planejava em

Leia a matéria »
Back To Top