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#JusticeForBionic: O sadomasoquismo biônico de Christina Aguilera

"Bionic", um dos maiores desastres comerciais de Christina Aguilera, é uma turbulenta história de ostracismo e teorias de conspiração.

“Bionic”, um dos maiores desastres comerciais de Christina Aguilera, é uma turbulenta história de ostracismo e teorias de conspiração.


SSe você acompanha a história da música pop com uma lupa de aumento, há determinados casos que você precisa conhecer. A história que acompanha o álbum Bionic, de Christina Aguilera, é uma dessas situações, responsável por uma das teorias de conspirações mais emblemáticas da música pop e um dos principais movimentos de revisão iniciado por fãs.

É impossível negar a presença que Christina Aguilera tem no gênero contemporâneo. A cantora, que completou 20 anos de carreira há quase um ano, é responsável por inspirar uma geração de cantoras e lançar um álbum-chave da música pop (o Stripped). Mas, assim como qualquer outro artistas, Aguilera acaba sofrendo de altos e baixos, encontrando sua primeira grande baixa após de quase 10 anos em constante relevância.

 

A Era Biônica

Com o lançamento do polêmico Stripped e, posteriormente, do aclamado Back to Basics, Christina Aguilera passa quatro anos sem um novo material. A época de seca acaba em 06 de abril de 2010, quando a cantora dá início a uma nova Era com a música Not Myself Tonight, carro-chefe do Bionic, compilado que é lançado em 08 de junho do mesmo ano.

Imagem promocional do clipe “Not Myself Tonight”

O conceito de Bionic é simples: um futurismo carregado de sexualidade, remetendo ao bondage e o sadomasoquismo e apresentando Madam X, mais um alter-ego de Aguilera. A ideia segue não só no visual, mas sonoramente, em um disco marcado por instrumentais pesados, batidas eletrônicas e sintetizadores carregados. A hipersexualidade empoderada de Christina Aguilera segue no conteúdo lírico da produção, que se divide em duas partes.

A primeira do compilado é de música repletas de sexo e de uma liberdade sexual escancarada nunca antes vista na discografia da cantora, que se diverte entre uma música e outra. A segunda, um lado completamente contrário, mostrando uma Aguilera extremamente vulnerável em baladas poderosas e cheias de sentimento, dor e pessoalidade.

O conceito, infelizmente, não pegou o interesse do público e nem da crítica. Bionic foi o primeiro fracasso comercial de Christina, que viu suas vendas empacadas – até hoje, o álbum foi incapaz de vender um milhão de cópias ao redor do mundo. A crítica especializada, por sua vez, recebeu a produção de forma bastante moderada, por vezes elogiando a sua força, mas apontando a incapacidade do álbum em chegar em algo lugar ou se mostrar coeso, soando artificial pela quantidade de sintetizadores e batidas eletrônicas.

https://www.youtube.com/watch?v=wt-tHcQR67Y

O fracasso levou Christina Aguilera a cancelar uma tour que já estava sendo comercializada, em planos que a colocariam de volta aos maiores palcos do mundo após a sucedida turnê global para promover o Back to Basics.

 

#JusticeForBionic

Capa do álbum

Bionic rapidamente caiu nas graças dos fãs, que apontava o disco como “Além de seu tempo” – coro, este, engrossado pela própria cantora em entrevistas pós-lançamento. Os fãs provavam a ideia pelo próprio conceito do álbum, até então relativamente inédito na música pop mainstream. E com veículos como a Billboard criticando o disco como o “melhor do ano pop até agora“, Bionic rapidamente ganhou um movimento para chamar de seu.

#JusticeForBionic (Justiça Para o Bionic, em tradução literal) visa, principalmente, revisitar e revisar o sexto álbum de estúdio de Christina Aguilera. Para os fãs, uma das maiores obras primas da cantora, repleta de músicas memoráveis e altamente conceituais, entregues de forma precisa, como a poderosa Prima Donna, a conceitual Sex for Breakfast, as intimistas Lift Me Up e I Am e a esperançosa Little Dreamer.

Bionic ainda é o responsável por colocar Sia Furler no radar mundial, até então desconhecida pelo mainstreamAguilera é nomeada como a primeira artista mainstream a trabalhar com Sia. E antes que você faça o Google, o hit mundial Titanium veio apenas em 2011, mas caiu na graça do povo só em 2012…

O álbum também traz nas participações vocais a rapper Nicki Minaj, até então estreante no cenário e pouco conhecida (Woohoo é apenas a segunda colaboração pop que a rapper faz). A presença das duas cantoras, unidas a Peaches, tocam em um ponto bem estalecido na carreira de Christina: a colaboração com artistas, produtores e compositores pouco conhecidos no mercado, ajudando a catapulta-los para o cenário mainstream.

 

Boicote e Injustiça

Talvez você não tenha se tocado, mas 2010 é um momento-chave para a música pop. Não só é a virada da década, mas também é o início de uma nova fase do gênero, que consagra uma nova geração de cantoras, como Lady Gaga, que protagoniza o que dá ao Bionic seu status de emblemático.

A capa do álbum é uma holografia, mostrando Christina Aguilera com metade de um rosto de mecânicas – que correspondem a certas atividades

O ano de 2010 é a continuidade do sucesso estrondoso de Gaga, que está em seu completo auge e já mostra sua influência na música pop. Na mesma época, a ascensão e popularização da internet já mostra seu peso direto na indústria, com blogueiros como Perez Hilton ditando regras e sendo um dos principais tokens determinadores de sucesso, esquecimento ou ostracismo. A união dessas duas pessoas dão à Christina um pesadelo real.

No auge, Gaga decide não querer dividir os holofotes com ninguém, principalmente alguém como Christina Aguilera, que tinha o poder de destruí-la e levá-la ao esquecimento. Unida ao então melhor amigo Perez Hilton, os dois começam um movimento de boicote ao Bionic que se materializa nos bastidores da música. Enquanto Lady Gaga fica responsável por se recusar a tocar em rádios que dessem espaço para o novo disco da veterana, Perez usa de sua influência e seu próprio site para destruir a imagem do álbum, apontando-o como uma cópia mal produzida do que Gaga estava entregando com sucesso.

Imagem promocional do clipe “Not Myself Tonight”

Bionic começa, então, a despencar nas paradas e a fracassar em todas as rádios, complicando a chegada ao público. No entanto, até então, a teoria de conspiração limita-se apenas a isso: uma teoria. Na indústria, ninguém se atrevia a citar os detalhes do suposto boicote, ao passo que Perez Hilton continuava a destruir a imagem de Aguilera dentro de seu famoso blog. O compilado de músicas acabou rapidamente engavetado, em um processo de marketing que lançou apenas dois singles oficialmente, sendo que o último deles quase não saiu.

 

Paz na Terra

A teoria de conspiração vira História quando, em 2013, Gaga e Hilton se separam, e Perez passa a tornar público tudo que fez em colisão com a Mãe Monstro. No Twitter, o blogueiro entre em consoante ao movimento #JusticeForBionic, encorajando as pessoas a compraram o álbum “além de seu tempo” e confirmando a existência de um plano massivo de boicote para priorizar o sucesso de Lady Gaga.

Com as revelações, a imagem entre Gaga e Christina Aguilera passa a ficar ainda mais tensa, forçando Lady Gaga posteriormente a se desculpar publicamente por qualquer coisa que tenha feito contra a veterana. Entre 2009 e 2013, a fan base e a mídia apontavam constantemente as desavenças entre as duas cantoras, motivada pelo boicote. É apenas após a explosão da confirmação pública que Gaga procura Aguilera, explicando frente a frente o que aconteceu e se desculpando (tudo fora dos holofotes), agora lançando Perez Hilton em um crescente ostracismo dentro da mídia. Paralelamente, para demonstrar paz no reino e o suporte de uma artista para a outra (a famosa sororidade), ambas sobem ao palco juntas.

Christina Aguilera e Lady Gaga juntas no palco do The Voice, em 2013

Em dezembro de 2013, Lady Gaga recruta Christina Aguilera para tomar o lugar do rapper R. Kelly na apresentação de uma de suas músicas. Do What U Want é então performada ao vivo, no palco do reality de competição musical norte-americano The Voice, onde Aguilera até então participava como uma das Coachs. Em união histórica, as duas se abraçam e dão as mãos publicamente, selando paz e passando, a partir de então, a dar suporte uma a outra.

O Tempo Chegou

Bionic acabou entrando para o hall de feuds entre artistas, consagrando-se como um dos mais emblemáticos pedaços de história da música pop. A teoria de conspiração rendeu por anos, gerando imenso atrito entre as estrelas e seus fãs. O fracasso do disco levou Christina Aguilera a um certo período de ostracismo, em uma época em que ela ainda estreava como atriz em seu próprio filme ao lado de Cher, Burlesque (2010), que ainda configura um outro ponto de injustiça em sua carreira e que hoje já foi revisado, colocando o filme como um cult não só entre os fãs, mas filmes musicais e a comunidade LGBTQIAP+ – da qual Aguilera dá tanto suporte.

https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kz6ZTVAEKb2oPCUse3N70Sn-2kDtMNLTA

Foi apenas em 2018, com Liberation, que Christina Aguilera reencontrou seu espaço no mercado. O ano também marcou o seu esperado retorno aos palcos, postergado pelo fracasso de Bionic e a baixa recepção de Lotus (2012), que forçaram a artista há mais de uma década sem nem mesmo uma breve turnê nacional. Agora resta ao mundo uma reparação história e perceber que o tal “além“, de “além de seu tempo“, finalmente chegou e já é mais do que hora de ressignificar a imagem da incrível Madam X.


PLAYLIST


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