fbpx
Destaque: "Life is Strange"
O jogo "Life Is Strange" ganha uma análise da nossa equipe, em preparação para a sequência "Life is Strange: Before the Storm".

O jogo “Life Is Strange” ganha uma análise da nossa equipe, em preparação para a sequência “Life is Strange: Before the Storm”.


EEscrever sobre jogos é um desafio, uma vez que envolve uma série de preconceitos que não permitem uma análise mais profunda do que o simples entretenimento. É muito importante o potencial que eles possuem de ocupar horas vagas e nos divertir, mas ainda é preciso ir além dos pensamentos simplórios de que são criados apenas com essa função. Antes, os jogos eram lineares com objetivos específicos, a famosa “Jornada do Herói” era entregue sem qualquer notoriedade ou desenvolvimento dramático. Contudo, alguns games já eram à frente do seu tempo e apresentavam personagens e uma narrativa que impressionava aqueles que passavam horas acompanhando seus acontecimentos.

Final Fantasy, Legend of Zelda, Chrono Trigger e outros RPG’s (Role-playing games) ganharam fama por inovar na forma como consumimos videogames, com tramas que crescem e nos surpreendem por causa da sensibilidade envolvida em cada detalhe que ultrapassa a jogabilidade, como os gráficos e a carnificina generalizada. Hoje temos mais exemplos de jogos assim, e graças a eles que precisamos desconstruir nosso olhar para enxergar a beleza presente em suas histórias. Life is Strange é um exemplo claro de jogo que guarda a cada minuto uma surpresa nova que ultrapassa a ação e produz uma experiência única.

 

Life is Strange

Desenvolvido pela empresa Dontnod Entertainment e publicado pela Square Enix (famosa por títulos como Final Fantasy, Dragon Quest e Secret of Mana), Life is Strange foi lançado em 2015 de forma seriada, em cinco capítulos que podem ser adquiridos em lojas digitais de games. O jogo conta a história de Maxine “Max” Caulfield, uma jovem tímida que voltou para a sua cidade natal após passar cinco anos longe, a fictícia Arcadia Bay, em Oregon. A personagem abre espaço para contar a história de muitos fãs de videogame que cresceram e podem se enxergar nela, até mesmo apresentar as experiências da própria equipe de produção durante a juventude.

Introspectiva e chamada constantemente de hipster pelos outros como forma de ofensa, voltou para a sua cidade natal com o intuito de estudar Fotografia na Academy Blackwell. Estar de volta implica em um novo ambiente escolar e nas transformações para a vida adulta e toda as complicações presentes nessa fase incerta. Momento em que a protagonista começa a perceber que não é mais adolescente, mas ainda não consegue se enxergar como adulta.

A priori é difícil percebemos o objetivo do game. Estamos na pele de Max e sabemos dos seus pensamentos, podemos ler seu diário e decidir suas ações. Contudo, a situação muda quando a garota presencia um assassinato e o gatilho que abre toda a trama de Life is Strange é disparado: o desejo que temos de voltar no tempo para tentar mais uma vez. Após presenciar um assassinato no banheiro da escola, a protagonista percebe ter o dom de voltar no tempo para tentar mudar os fatos. Essas mudanças desencadeiam novos efeitos na história e mudanças de como o jogo pode terminar, mas as principais delas resultam em um destrutivo efeito borboleta.

O simples bater de asas de uma borboleta pode influenciar o curso natural das coisas, até mesmo provocar tufões no outro lado do mundo. Essa é uma premissa importante da teoria do caos, regra que cerca a trama e nos mostra as consequências de uma segunda chance.

Imagem promocional do jogo "Life is Strange"
Imagem promocional do jogo “Life is Strange”

 

Tempo, Narrativa e Nostalgia

Nos primeiros minutos de jogo percebemos um detalhe importante da premissa dos desenvolvedores: a nostalgia. Max acabou de voltar para a sua cidade natal depois de cinco anos longe, cheia de memórias da sua infância e desejos por reencontro. Entre lembranças, nos surpreendemos quando a protagonista reencontra Chloe Price – sua melhor amiga durante a infância, mas que perderam o contato quando Max deixou Acardia Bay. Em uma situação complicada, as duas desenvolvem um diálogo sobre a distância, amizades e como a vida é cheia de desencontros.

Capa do jogo "Life is Strange"
Capa do jogo “Life is Strange”

Entre os desencontros, o desaparecimento de Rachel Amber – uma amiga próxima de Chloe – cativa as garotas a unirem força para tentar entender o que aconteceu com ela. Nesse momento de união feminina, entramos em uma aventura com viagens temporais, mudanças e escolhas. O jogo foge do esperado por muitos que conhecem videogames apenas como fases lineares e inimigos para serem derrotados, porque o desafio gira em torno de explorar a cidade, conversar com os moradores dela e acompanhar o crescimento de Max.

Apesar de suas diversas nuances, um ponto de extrema importância da trama de Life is Strange é a forma como tratamos o próximo. A hostilidade entre adolescentes, infelizmente, é algo que ainda circunda as escolas e universidades. Principalmente quando o essencial é conseguir ser aceito do jeito como você é. Max é constantemente ofendida por ser tímida, gostar de câmeras analógicas e ser um pouco hipster. Chloe tornou-se rebelde após o falecimento do pai e o casamento da mãe com um padrasto que nunca consegue entende-la, mas percebemos que os seus sinais de rebeldia na verdade são pedidos por ajuda.

Além dessas personagens, conhecemos de perto Kate Marsh. Religiosa e conservadora, Kate sempre foi vista com desprezo pelos outros alunos da Blackwell Academy. Porém, a jovem começou a ser hostilizada depois de ter sido inadvertidamente drogada em uma festa e ter sido gravada ficando com vários garotos. Nesse momento, presenciamos o sofrimento dela com o bullying e seu distanciamento. Entre as consequências, a única forma de ajudá-la é com o diálogo e a compaixão.

Life is Strange cria uma nova possibilidade de narrativa com a exploração de cenários e a riqueza dos personagens que compõem a obra. Além de divertir, submerge o jogador numa vida que não é tão diferente da dele – apesar das viagens no tempo. O jogo trata de questões que fazem parte do nosso cotidiano, tem repercussão nas mídias e que precisam ser enxergadas de forma sensível. A juventude ganhar cor e forma, tornando-se um objeto de análise e reflexão sobre como podemos ser melhores para o mundo e para o outro. É um exercício de empatia constante, principalmente quando percebemos que nem sempre é possível consertar os nossos erros.

 

Life is Strange Season: Before the Storm

Após o sucesso de Life is Strange, a empresa Deck Nine Games, em parceria com a Dontnod Entertainment, anunciou um prequel para a saga enquanto a segunda temporada está em fase inicial de desenvolvimento. Life is Strange: Before the Storm terá como enredo a vida de Chloe Price anterior aos adventos do primeiro game. Logo, conheceremos a personagem antes do cabelo azul, do desaparecimento de Rachel e da volta de Max Caulfield para Arcadia Bay. O jogo também focará na relação da Chloe com a Rachel e a amizade que surgiu entre as duas garotas que se aliam para enfrentar seus demônios.

De acordo com a Deck Nine Games, Life is Strange: Before the Storm terá apenas três capítulos entre duas a três horas de gameplay cada um. A data de lançamento do primeiro é dia 31 de agosto desse ano.


Compartilhe

Twitter
Facebook
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Pocket
relacionados

outras matérias da revista

Música
Marcelo Tosi

Drag, Diversão e Diversidade

Existem muitas divergências em relação à história do nascimento do Movimento Drag, porém constata-se que ele surgiu há muito tempo atrás, por volta do ano de 1800 na Europa, através de encenações de peças teatrais. Isso tudo aconteceu porque os homens precisavam se vestir de mulher para representar personagens femininas, já que as mulheres ainda não tinham espaço no mercado de trabalho. E observa-se que, desde seu início, esse tipo de arte era subjugada e olhada de forma depreciativa. Mas, foi em 1900 que essa arte começou a realmente se associar ao movimento LGBTQIAP+. Os espetáculos, feitos pelas pessoas que

Leia a matéria »
Na Prateleira de Cima
Bruna Curi

Na Prateleira de Cima / “Conhecendo Joël Dicker”

Sabe aquela sensação de conhecer um autor incrível e de querer conversar sobre ele com outras pessoas? Eu me sinto dessa maneira com Joël Dicker, o escritor suíço de 33 anos. O meu primeiro contato com as obras dele foi através do Intrínsecos, clube do livro da Editora Intrínseca, em que os assinantes recebem um livro exclusivo e que ainda não foi lançado no Brasil. Foi graças à O Desaparecimento de Stephanie Mailer que conheci o trabalho de Dicker. O livro enviado pelos Intrínsecos é um romance policial que se passa na pacata cidade de Orphea, localizada na costa leste dos

Leia a matéria »
Back To Top