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"Uncharted: Fora do Mapa" falha ao adaptar o carisma do game e na construção de um filme cinematograficamente interessante.

“Uncharted: Fora do Mapa” falha ao adaptar o carisma do game e na construção de um filme cinematograficamente interessante.


AA relação entre o Cinema e os videogames nutre uma dinâmica muito interessante e pouco fortuita aos estúdios de Hollywood. Por mais que os consoles dos últimos 15 anos tenham gozado de uma qualidade de imagem ímpar e do sucesso de jogos com narrativas cada vez mais cinematográficas, o caminho oposto não tem sido tão prolífico justamente porque Cinema e Games são duas expressões artísticas diametralmente opostas: em uma delas o espectador é passivo, na outra o player tem o controle nas mãos.

Pensando assim, até faz sentido que a maioria das adaptações de games para os cinemas tenham optado por emprestar ora o cânone de franquias, ora os elementos visuais e temáticos que mais se destacam de jogos marcantes e queridos por uma base de fãs. É uma investida que aposta, como ponto de partida, na nostalgia e no reconhecimento dos elementos cinematográfico dos games (especialmente nas cut scenes deslumbrantes e inquietantes) para tentar dar vida a filmes que, por sua vez, não tem nada de gameficado.

Este acaba sendo o caso de Uncharted: Fora do Mapa, adaptação do icônico e adorado jogo da Naughty Dog, que vem ao mundo com Tom Holland e Mark Wahlberg como protagonistas. O curioso desta primeira empreitada do universo do jogo é que Uncharted é uma franquia que obteve reconhecimento nos games e sucesso de publico justamente por uma narrativa que combinava um tema interessante (a caça ao tesouro e o universo arqueológico no melhor estilo Indiana Jones) junto a gráficos exuberantes e cut scenes verdadeiramente dignas de uma animação de cinema.

Por todos estes motivos, o filme de Uncharted sempre foi visto com alta expectativa tanto por executivos da Sony, quanto por fãs da franquia porque a adaptação parecia já mais natural do que em outras tentativas. Uma pena que essa ideia seja destruída com tamanha facilidade por um trabalho – como um todo – que soa no piloto automático.

A história de Uncharted: Fora do Mapa é original em relação aos jogos e fiel a todo universo temático de arqueologia, tesouros escondidos e assaltos, mas se essa semelhança vai empolgar os entusiastas dos games, o desapontamento com uma questão crucial será ainda maior. O que mais empolga e envolve o jogador na narrativa de qualquer um dos jogos é, sobretudo, o grande protagonista da história: o ladrão carismático Nathan Drake. E, neste sentido, o longa de Uncharted parece ser comandado e atuado por pessoas que nunca nem encostaram em uma manete de videogame.

Chega a ser enfadonha a caracterização dos personagens aqui: o Nate de Tom Holland – em versão mais jovem do que nos games – não empolga porque sua versão é, também, desprovida da malicia e da malemolência que o personagem exala nos jogos; Já o “Sully” de Mark Wahlberg ainda tem um pouco da canastrice da figura conselheira que o carismático Victor Sullivan dos games exala (e vale apontar que a falta do bigode e do charuto também deixam o personagem bem menos interessante).

Esse desinteresse visual é reforçado em toda a direção de Ruben Fleischer, que pena (e muito) para dar conta de um roteiro pouco inspirado nas dinâmicas de personagens e nas sequências de enigmas expositivas como uma entrevista com um arqueólogo ou historiador. Falta mesmo criatividade e inspiração para transformar Uncharted em um filme de caça ao tesouro minimamente envolvente.

O que também atesta para essa dificuldade na encenação são as sequências de ação. O filme tem duas grandes set pieces que se arrastam com um CGI comum, incapaz de criar cenas cinematográficas tão empolgantes quanto ter um controle nas mãos.

No meio de toda essa bagunça expositiva em catacumbas secretas e viagens pelo globo, Uncharted: Fora do Mapa vai se apegando a iconografia da franquia dos games como âncora emocional e afetiva do espectador. E, nesse sentido, o longa vai adicionando um easter egg de cada vez, uma pincelada de referencia visual para tentar construir o personagem a partir da memória do espectador (não é atoa que o Nathan Drake de Holland só aparece com o visual “completo” nos últimos minutos da projeção).

Temos, então, o desfecho de uma adaptação que navega perdida entre as qualidades cinematográficas de um jogo e as dificuldades de gameficar uma narrativa cinematográfica. E perdida entre essas duas ideias, Uncharted: Fora do Mapa só consegue ser frustrante.

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