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"The Ballad of Buster Scruggs" é o novo filme dos irmãos Coen, lançado diretamente na Netflix, apostando em seis contos bem construídos e produzidos.

“The Ballad of Buster Scruggs” é o novo filme dos irmãos Coen, lançado diretamente na Netflix, apostando em seis contos bem construídos e produzidos.


TThe Ballad of Buster Scruggs, o mais recente trabalho de Ethan e Joel Coen, os famosos irmãos cineastas estadunidenses por trás de filmes como Fargo (1996) e Onde Os Fracos Não Têm Vez (2007), trata-se de uma obra antológica composta por seis contos não relacionados entre si sobre o faroeste americano. No entanto, indo muito além de um simples filme do gênero western, as histórias contadas durante o longa distribuído pela Netflix trazem as mais diversas reflexões sobre a vida, de uma forma tão mórbida que chega a ser até mesmo cômica.

https://www.youtube.com/watch?v=rJqOKGLH_mw

E nesse clima começa o primeiro conto, com o homônimo Buster Scruggs cantando enquanto cavalga pelo velho oeste com seu traje perfeitamente branco e sua fala cheia de sotaque. Embora Tim Blake Nelson nos apresente um personagem polido e engraçado, logo vemos o jogo mudar quando ele é ameaçado, deixando pelo menos uma dezena de cadáveres para trás e nos mostrando porque ele está sendo procurado nas redondezas.

A rapidez de Buster pode servir também como aviso sobre o desenrolar da obra que está por vir, sendo talvez esse o motivo de ter sido escolhido como o inicio. O telespectador de The Ballad of Buster Scruggs deve ficar com os olhos abertos o tempo todo, ou perderá informações importantes para o entendimento do enredo dos contos a seguir.

A partir desse momento, ainda na comédia, vemos Near Algodones, protagonizado por James Franco, trazendo a história de um ladrão de bancos que se dá mal ao encontrar um banqueiro extremamente armado. Rápido e sem grandes diálogos, essa narrativa dá o pontapé na mudança do humor para a melancolia, onde assistimos a espera da morte, que não parece ser tão bem vista pelo personagem como era para o protagonista anterior.

Nesse conto também vemos pela primeira vez os nativos americanos dos Irmãos Coen, que não deixam de seguir a tradicional representação hollywoodiana de guerreiros sanguinários. Por fim, vemos o personagem cumprir seu destino que lhe foi fadado desde o inicio, desta vez, em frente a uma multidão aplaudindo.

James Franco dá vida à mórbida segunda história de “The Ballad of Buster Scruggs”

O conto seguinte de The Ballad of Buster Scruggs já não tem o fundo de humor dos anteriores, mostrando um clima sombrio e gelado raramente associado ao oeste selvagem americano. The Meal Ticket conta a história da trupe itinerante de Liam Neeson, um homem calado responsável por cuidar do personagem sem pernas e braços de Harry Melling.

Com uma atuação extremamente boa, Melling nos sufoca lentamente com as angustias de seu papel que transparecem muito bem no seu olhar durante toda a trama. Assistimos sua triste dependência com Neeson, que cada vez mais desumaniza o portador de deficiência, reduzindo-o diversas vezes a uma ferramenta para ganhar dinheiro. E é nesta mesma lógica assustadoramente apática do personagem que o conto tem um fim silencioso, onde é impossível não se incomodar com o triste fado de Harry Melling.

All Gold Canyon, a mais reflexiva das narrativas apresentadas, traz a relação do personagem de Tom Waits com a natureza ao seu redor. Com paisagens estonteantes como pano de fundo, vemos o homem buscando um grande bolsão de ouro, atividade essa que levou as pessoas a habitar o oeste americano, e que se trata da caça da vida do personagem.

Ao decorrer da história, vemos a ganância tomando forma em tudo que há de ruim nos homens, refletindo de maneira nociva na natureza. É nesse conto também que começamos a questionar se não foi um erro de The Ballad of Buster Scruggs, que tem como diretor de fotografia Bruno Delbonnel, não ter sido distribuído nos cinemas, já que as paisagens causam um impacto muito grande a aqueles que o assistem.

Na quarta história de “The Ballad of Buster Scruggs”, Tom Waits é o personagem central da crônica

O penúltimo e mais longo dos contos, The Girl Who Got Rattledtraz a história da jovem Alice Longabaugh, que viaja pelo oeste americano com seu irmão em direção ao casamento em que foi prometida. Durante diversas reviravoltas, a moça acaba sozinha em meio à caravana, com o cachorro e uma divida para honrar herdados de seu irmão. Com a história mais complexa entre todas as apresentadas no filme, o conto peca ao ter Zoe Kazan como protagonista, já que a atriz só consegue despertar alguma compaixão dos telespectadores em sua cena final.

Fechando The Ballad of Buster Scruggs, temos o conto com maior quantidade de diálogos entre todos. The Mortal Remains mostra um grupo viajando para um destino em comum, onde entre eles se encontram dois caçadores de recompensas que levam consigo um cadáver. Ao longo de toda a história observamos os discursos traçarem as personalidades que estão ali presentes e logo começamos a criar teorias de o que se encontra no destino final para cada um deles, destacando-se uma senhora que diz estar indo ao encontro de seu marido.

É neste conto que percebemos se tratar realmente de um filme dos Irmãos Coen, já que os diálogos bem construídos, mesmo que sem muito objetivo, se mostram de forma mais explícita. Quando finalmente chegam ao seu destino final, o fúnebre conto tem seu ápice em sua aura mística, encerrando o longa que se interliga pela morte.

De uma maneira geral, The Ballad of Buster Scruggs trata-se de um filme muito bonito e bem construído. A ordem que os contos se dispõem é perfeita para que em momento algum o espectador deixe de sentir o clima cômico, porém mórbido que acompanha os personagens, e que traz uma representação completamente diferente das outras já vistas do tão conhecido velho oeste americano. Ao não lançarem a obra no cinema, entretanto, os Irmãos Coen correram o risco de terem desperdiçado ótimos enredos e uma belíssima fotografia que acabou reduzida a exibição nas telinhas.

No entanto, o filme em si é bom o suficiente para que esqueçamos que estamos em casa e para que fiquemos imersos em seu universo. Para aqueles que buscavam mais uma tradicional obra Coen, não foi dessa vez que encontraram, porém é uma ótima parceria dos diretores com a Netflix, agradável para os olhos e intrigante para nossas mentes.

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OSCARs 2019

Indicações: 3.


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