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Retornando de hiato, George Miller faz em "Era Uma Vez um Gênio" um filme-constatação sobre a importância e a beleza das narrativas.

Retornando de hiato, George Miller faz em “Era Uma Vez um Gênio” um filme-constatação sobre a importância e a beleza das narrativas.


NNo tempo em que a retomada do cinema pós-pandemia foi não só debatida como disputada por cineastas, estúdios e exibidores, alguns filmes contribuíram – surpreendendo ou decepcionando – para este movimento. Seja nos flops de Tenet e Jurassic World: Dominion, nos sucessos de bilheteria de Homem-Aranha: Longe de Casa e Top Gun: Maverick ou nas boas recepções de público no sentido mais afetivo como Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo, o fato é que o cinema nos últimos dois anos foi confrontado pela necessidade de boas histórias e de “filmes-eventos” capazes de retomar o interesse de um público cada vez mais assimilado ao streaming.

Neste contexto, é curioso ter a volta de George Miller após um hiato de 7 anos desde Mad Max: Estrada da Fúria (2015), se juntando ao movimento de volta ao cinema com Era Uma Vez um Gênio em um atestado sobre a importância e a potência da contação de histórias como um exercício de reconciliação.

A história nos apresenta a solitária Alithea Binnie (Tilda Swinton), professora de narratologia que, durante uma viagem de trabalho à Istambul, adquire uma antiga garrafa mágica que é guarda um gênio (Idris Elba). Daí em diante, temos um grande encontro de sessão de terapia em dupla com um passadão pela vida da protagonista e do gênio, na busca para Alithea decidir a decisão mais importante do que o acaso lhe ofereceu: os três desejos a serem realizados pelo gênio.

O que é mais interessante em Era Uma Vez um Gênio é como George Miller faz um filme com uma essência anárquica e, porque não, amórfica em essência. Na mesma medida em que o filme abraça a fantasia em uma jornada lúdica de viagem no tempo por históricas conhecidas da ficção e alguns mitos sacro-religiosos, ele também se mantém mais realista nos momentos de diálogo entre a dupla vivida por Swinton e Elba, reforçando um aspecto mais teatral da encenação.

Em certo sentido esse comportamento levemente desenfreado da narrativa cria um ruído ao longo da projeção. Apesar de toda a fantasia e ludicidade, ainda é um filme um pouco burocrático na encenação, criando um confronto entre essa veia fantasiosa e a dinâmica teatral mais engessada.

No fim das contas, este é um filme conciliador que culmina num desfecho lindo e tocante sobre amor, encontros da vida e, sobretudo, a beleza de se permitir viver histórias que soam como romance, mas são, na verdade, romances reais.

Neste momento de retomada do cinema e da necessidade de boas histórias, reencontrar George Miller após uma longa pausa já seria um convite interessante por si só, mas Era Uma Vez um Gênio nos convida a uma cativante jornada fantasiosa a respeito da potência da contação de história e da universalidade do amor como remédio para nossas dores.

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