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Em drama fantasmagórico sobre luto, "Drive My Car" arrebata o espectador em uma jornada de enfrentamento com as dores interiores.

Em drama fantasmagórico sobre luto, Drive My Car arrebata o espectador em uma jornada de enfrentamento com as dores interiores.


É surreal perceber que Ryusuke Hamaguchi fez, no mesmo ano, o excelente Roda do Destino e o arrebatador Drive My Car. Se ambos conseguiram quebrar as barreiras do mercado ocidental, Drive My Car consegue feito ainda maior sendo o primeiro filme japonês da história a ser indicado a “Melhor Filme” no Oscar. E não é atoa: Drive My Car é uma fantasmagórica experiência cinematográfica que trata sobre a dor do luto e o peso de cicatrizes não resolvidas ao longo da finitude da vida.

A história – uma adaptação que expande o conto homônimo de cultuado escritor japonês Haruki Murakami – nos apresenta ao diretor de teatro Yûsuke (Hidetoshi Nishijima), que mergulha nos ensaios de uma nova e difícil produção de Tio Vanya, de Anton Tchekhov, após a morte da sua esposa. Entre os preparativos e ensaios da peça, seguimos a relação criada o protagonista e a jovem motorista Misaki (Tōko Miura), que fofa contratada pelo teatro para dirigir o amado carro de Yûsuke, mesmo que contra sua vontade.

Desta premissa, encaramos viagens silenciosas e conversas profundas que aproximam os dois personagens de uma forma única, revelando não só as proximidades que eu tem com o outro, mas também as distâncias que tornam aquela nova relação tão profunda e intrigante. 

Drive My Car é um filme que entende muito bem como a noção de tempo é importante para as cenas (os planos longos, as conversas continuas, o sentimento duro que não se cura) e que trabalha esse tempo de forma muito orgânica.

É bem interessante como existe uma grande fala sobre as dores da vida em toda a dinâmica de encenar a peça, de dar sequência a um projeto inacabado e interrompido, de a personagem não conseguir enfrentar o sentimento e precisar escrever ele para expurga-lo na boca do outro. 

É evidente que o diretor de teatro têm dificuldade de expressar sua dor e precisa coloca-la nas falas dos personagens da peça, mas ao mesmo tempo ele também mergulha em um estado de evasão da realidade justamente por se manter, constantemente, lidando “apenas” com  o espetáculo. Ao se colocar na posição de viver a vida do outro (mesmo que fictícia), Yusuke se impede de viver e sentir a própria.

Ainda sobre o sofrimento do protagonista, Hamaguchi encontra outra forma para evidenciar a condição de desamparo do protagonista. Nada é mais forte e potente do que representar a inércia insólita da dor e a incapacidade de tomar ações quanto o próprio sentimento, do que ter alguém dirigindo o seu carro e te guiando para novos destinos.

Então, o diretor transforma o carro vermelho de Drive My Car em um ambiente confinado que, em movimentos errantes pelas ruas, coloca dois personagens para desfrutam do silêncio e encararem um encontro capaz de resolver os traumas do passado de cada um e abrir um horizonte verdadeiro para o futuro. Um encerramento otimista e esperançoso para um bonito longa sobre o enfrentamento dos fantasmas do passado por meio da interlocução com o outro.

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