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Os 40 anos de “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”

Contatos Imediatos de Terceiro Grau segue como um filme atemporal, atualizado e envolvente graças a maestria que Spielberg o compõe.

“Uma boa ideia e uma câmera na mão”, era a frase dos anos 70 quando se fazia referência ao talento revelado por um jovem cineasta independente. Foi assim que Steven Sipelberg começou com o seu Encurralado (1971), ótimo filme e de produção barata, que manipulava muito bem o suspense numa direção ágil mostrando um motorista sendo inexplicavelmente perseguido por outro numa estrada.

O filme despertou o interesse pelo diretor que ganhou a auréola de “Cult”. Em seguida, veio o colossal sucesso de Tubarão (1975), baseado numa novela mediana de Peter Benchley, sobre os conflitos de interesses num pequeno balneário quando um tubarão branco ataca e mata uma mulher durante a temporada de verão, a grande época de faturamento da cidade. A cena do primeiro ataque é brilhante e hoje um clássico, com a câmera representando a perspectiva do tubarão se aproximando das pernas da mulher vistas acima, ao som do inesquecível tema composto por John Williams. Ninguém nuca mais entrou no mar do mesmo jeito.

Estrondoso sucesso mundial e ainda um filme de baixo orçamento, Tubarão trouxe um enorme prestígio a Spielberg, inaugurou em conjunto com Star Wars do amigo George Lucas a “era dos blockbursters”, na época em que cineastas como Bergmann, Fellini, Antonioni, Godard e François Truffaut estavam na ativa. Como era de se esperar, Spielberg foi taxado pela crítica e pelos meios mais intelectualizados como um cineasta menor, diretor de filmes comerciais para jovens de QI reduzido e autor comercial, fora do circuito dos chamados na época “filmes de arte”.

Estamos falando de Spielberg antes da consagração pelo Oscar com o elogiado pela crítica A Lista de Schindler (1993) e antes de E.T. (1982). Isto foi há quarenta anos atrás quando o cineasta escreveu e dirigiu o seu Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), que anos mais tarde se tornou um “filme cult” e um clássico de ficção científica.

Contatos Imediatos foi filmado numa época em que livros de grande sucesso como Eram os Deuses Astronautas? questionavam se seriam de autoria de seres extraterrestres obras como as estátuas da ilha da Páscoa, as pirâmides do Egito e as linhas de Nazca, livros estes que inspiravam documentários e especiais para a TV. Livros sobre discos voadores figuravam semanalmente na lista dos mais vendidos, fenômenos paranormais eram abordados em revistas respeitadas, escrevia-se e lia-se também muito sobre o mistério do Triângulo das Bermudas onde aviões e navios desapareciam como se houvesse ali um portal para outras dimensões e a cultura “New Age” florescia apoiada em yoguis e mestres espirituais e em experiências lisérgicas como as retratadas no livro A Erva do Diabo de Carlos Castanheda.

https://www.youtube.com/watch?v=tWFner_PI4Q

Contatos Imediatos do Terceito Grau foi um impactante e original filme sobre discos voadores, com os alienígenas tratados como seres pacíficos, a comunicação com os mesmos sendo feita através da música, com a inovação nos efeitos especiais na criação de naves espaciais, especialmente a nave mãe que aparece nos quinze minutos finais, que deixava muita gente fascinada e presa na cadeira do cinema. O filme colocou a visão de discos voadores – ou como eram chamados dos UFOs ou OVNI no Brasil (objetos voadores não identificados) tema muito comum em discussões cotidianas na época – numa dimensão quase espiritual e mística. As tomadas privilegiando o enorme céu estrelado sobre as casas e as cidades trazia a todo mundo uma noção da imensidão do universo, conferindo um caráter transcendental ao mesmo, de onde poderiam surgir forças que a qualquer momento poderia intervir e influenciar em nossas vidas. Como em Tubarão, Spielberg dizia que gostava de filmar pessoas comuns expostas à circunstâncias extraordinárias.

O diretor foi fiel ao léxico da época quando se referia à OVNIs, com “Black outs”, queimaduras de sol , relatos de objetos não identificados por pilotos aos controladores aéreos e tem a honrosa participação em poucos segundos do filme de J. Allen Hynek, o mais respeitado e famoso ufólogo da época.

O longa tem ritmo, manipula bem o suspense e caminha num crescendo bem estruturado entre a confusão dos protagonistas expostos à influência psíquica dos extraterrestres e os pesquisadores ufólogos e membros do governo que construíam o que seria a vivência do contato imediato do terceiro grau, ou seja, o encontro físico com um ser extraterrestre. Cineasta que se equilibrava entre o cinema comercial e a independência, marca que o diretor traz até hoje (para bem ou para mal), Spielberg teve a participação especial de François Truffaut como o ufólogo Lacombe, o que foi um marco. O respeitado, “cabeça” francês (este detalhe aqui é importante) e vanguardista Truffaut num papel central num filme de ficção científica do jovem, estado-unidense e teoricamente comercial e hollywoodiano Steven Sipelberg foi um misto de ousadia do francêsque mostrou sua liberdade e respeito ao jovem cineasta, lançando no mínimo uma incógnita para os amantes de cinema de arte e detratores do cinema comercial.

A composição de cena de Spielberg torna o vislumbre das naves alienígenas mais impactante

Contatos Imediatos do Terceiro Grau conseguiu unir os dois universos. É um filme autoral, ousado e experimental de um jovem cineasta que tinha todos os recursos do mainstream. É um prazer revê-lo quarenta anos depois, enxergar a juventude, a criatividade, a independência e a genialidade de Spielberg, deixando-os ansiosos por o que ele ainda pode nos trazer.


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