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Tentando inovar, "A Menina que Matou os Pais" e "O Menino que Matou Meus Pais" derrapa e acaba entrando um combo de filmes medianos.

Tentando inovar, “A Menina que Matou os Pais” e “O Menino que Matou Meus Pais” derrapa e acaba entrando um combo de filmes medianos.


QQuando os filmes sobre o Caso Richthofen foram anunciados, a decisão de fazer dois longas gerou diferentes opiniões na internet. Algumas pessoas acharam curioso e interessante, enquanto outras questionaram a necessidade de pagar dois ingressos de cinema para, teoricamente, uma história.

A proposta da produção seria lançar A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais simultaneamente, com exibição em salas diferentes. Assim, o público poderia optar por assistir um único, mas a intenção era que os dois lados fossem assistidos, e cada um tirasse suas conclusões sobre o caso.

A data de estreia estava programada para 2 de abril de 2020 mas, como diversos outros filmes, os planos foram mudados pela pandemia da Covid-19. Ao invés de serem exibidas no cinema, as películas foram direto para os serviços de streaming, chegando ao Amazon Prime Video ao final de setembro.

 

Relembre o caso

O Caso Richthofen aconteceu em 2002, quando Manfred e Marísia von Richthofen foram assassinados pelos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos, num plano articulado junto com a filha do casal, Suzane. De maneira bem simplória, o crime teria sido motivado tanto pela possibilidade de obter uma grande herança, pois os Richthofen eram riquíssimos, quanto pelo repúdio de Manfred e Marísia ao namoro de Suzane com Daniel.

As investigações caíram sobre o trio muito rapidamente. No livro O Quinto Mandamento, de Ilana Casoy, os policiais apontam uma grande frieza por parte de Suzane ao saber da morte dos pais, e ainda se surpreenderam quando ela fez um churrasco em casa após o velório. Cristian chamou atenção por comprar, dos dias posteriores ao crime, uma moto de um valor que ele, teoricamente, não teria condições de pagar.

O julgamento aconteceu em 2006. Ainda que os acusados tenham confessado, os depoimentos mostravam versões diferentes sobre a participação de cada um no crime. Suzane adotou a postura de ser uma jovem ingênua, que foi completamente coagida pelo namorado. Ela também afirma que tinha uma ótima relação com os pais até Daniel aparecer, que usufruía muito das condições financeiras dos Richthofen. Já os irmãos Cravinhos vêm com uma ideia oposta, alegando que Suzane seria a ‘má influência’ do Daniel e que a casa dos Richthofen era um ambiente agressivo, além de contrapor a ideia de que Daniel era bancado por Suzane.

 

Os filmes

Os filmes foram trabalhados com base nessa divergência das histórias. Em O Menino que Matou meus Pais, Suzane (Carla Diaz) tem a oportunidade de contar sua versão, enquanto A Menina que Matou os Pais retrata o ponto de vista de Daniel (Leonardo Bittencourt). Ambos tecem histórias desde quando o casal se conheceu até o dia do crime, mas com os fatos descritos em versões bem diferentes.

O diretor, Maurício Eça, recomenda que a sequência seja iniciada pelo filme contado por Suzane. Nessa versão, a protagonista se apresenta como uma adolescente ingênua, mas retratada de forma extremamente infantil. Chega a ser desconfortável ver Carla Diaz, que tem 30 anos, agindo como uma menina de oito. Tanto as roupas quanto os trejeitos são exagerados, mas caem num ponto importante: a Suzane ‘verdadeira’ se portava exatamente assim nas entrevistas feitas após o crime. Ela usava camisetas de personagens infantis, várias presilhas coloridas no cabelo e falava exatamente como uma criança. Seguindo a proposta de se comportar tal qual a pessoa, Carla consegue de fato trazer essa Suzane ao O Menino que Matou meus Pais, mas me pergunto se isso era mesmo necessário.

Na versão de Daniel, Carla entrega uma personagem bem diferente, mais ousada e arrogante, um total oposto da Suzane infantilizada. Contudo, em A Menina que Matou os Pais, a atuação não dá o mesmo desconforto. Acredito que tenha sido proposital e que, se a direção pediu para que Diaz trouxesse essas duas protagonistas tão caricatas, ela certamente cumpre o trabalho.

Porém, a Suzane infantilizada e num local de ‘pobre coitada’ torna o filme mais maçante e com um ar de completa desconexão com a realidade. Ainda que na versão de Cravinhos ela seja a grande vilã, A Menina que Matou os Pais aponta alguns leves deslizes do personagem, enquanto, no outro, ele é o babaca em todas as situações possíveis e ela é uma garota imaculada.

 

Balanço Final

A sensação que me dá é que os filmes tentam demonstrar que ambos são culpados, mas Suzane é uma doida com uma enorme ficha de transtornos mentais, enquanto Daniel é uma ‘pessoa normal’. Pode ser que ela realmente tenha diversas questões psicológicas, mas a intenção anunciada do filme não é essa. Se for para o espectador escolher qual depoimento é mais verdadeiro, dificilmente dirá que é O Menino que Matou meus Pais.

Por esse comportamento infantilizado da maneira mais extrema possível, o filme de Cravinhos fica melhor do que o da Richthofen. Talvez, por isso, Eça tenha recomendado nessa ordem, bem numa linha de ‘já que esse ficou ruim o segundo vai parecer melhor’. Mas, se eu tivesse assistido apenas A Menina que Matou os Pais, teria gostado do filme, talvez até mais do que com a experiência de assistir o outro antes. Ver a mesma história duas vezes é um pouco cansativo, principalmente porque já dá para prever como algumas situações serão demonstradas sob o ponto de vista de Daniel.

No final das contas, não acho que os filmes são ruins, só não são trabalhados da melhor maneira possível. É importante frisar que a proposta não é a de abordar a investigação do crime nem de trazer novidades, até porque o caso já foi desdobrado diversas vezes. A ideia passada pelo diretor e pelos roteiristas, Raphael Montes e Ilana Casoy, é o de focar apenas nos depoimentos de cada um, servindo como a base para ambos os filmes.

Infelizmente, acredito que A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais serão bem mais duramente criticados por serem de produção nacional. Antes do lançamento, muitas pessoas já questionavam a necessidade de fazer um filme sobre um crime brasileiro, enquanto as histórias sobre serial killers gringos recebem muitas atenções e elogios. Não é preciso nem mencionar a quantidade de filmes, séries e documentários a respeito de Ted Bundy, certo?

VOCÊS POR AQUI?
Reconheceu a dupla de roteiristas de algum lugar? Raphael Montes e Ilana Casoy escreveram o livro Bom Dia, Verônica, que originou a série de mesmo nome da Netflix.

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