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Diversas são as obras de arte que tratam do amor como o sentimento ambíguo e complexo que é, em investigações de suas manifestações.

Amor é um sentimento ambíguo, detentor de difícil definição e vítima de constante exploração. A arte, enquanto veículo de comunicação, sempre serviu para expor desabafos, angústias e incertezas, constituindo nosso porto de reflexões ao longo da vida. Não é por acaso, portanto, que temos o amor como um tema onipresente nas manifestações artísticas. Estas que, por sua vez, são espelhos de tempos vividos.

Por isso, apesar dos temas comuns, existem autores com visões ridiculamente contrastantes. Reflexões de épocas distintas. Definições não são permanentes, e o verbete “amor” não foge à regra. Começando com Homero, passando por Shakespeare e parando em Machado de Assis, trafegamos de uma super idealização para uma sóbria realização do que é amar ou se sentir amado. Efeito das revoluções, das notícias, das máquinas ou das grandes guerras. Lidamos hoje com webpages e aplicativos de smartphones. Qual o resultado disso?

Para quem ainda não viu, recomendo fortemente assistir à La La Land. Um musical lotado de referências saudosistas que realçam sua romântica narrativa. Uma celebração do amor? Mais do que isso: uma celebração do indivíduo. Estamos cercados por indivíduos. Todos sucumbidos à necessidade de ser amado e amar o ser, nem que seja aquele com quem você brigou no trânsito na hora do almoço.

https://www.youtube.com/watch?v=YH4cnj3sTe4

O filme de Damien Chazelle não conta uma história de amor qualquer. O foco é no sujeito simples, na vida privada, nos sonhos não compartilhados; na perspectiva de cada um diante da cidade onde vive, das músicas que escuta e suas respectivas memórias enaltecidas. Um filme que usa ingredientes da década de 50 e um modo de fazer do século XXI; o século individualista.

 

É bom saber que temos artistas empenhados em nos lembrar de que isso não é de todo ruim. O filme é deveras divertido. Igualmente positivo também que tenhamos mentes criativas dispostas a explorar o lado trágico disso. É o que Yorgos Lanthimos fez há um tempinho atrás.

O Lagosta é um retrato desbotado do que costumavam ser as interações humanas e de como elas, aparentemente, não evoluíram tanto assim. Casamentos arranjados deixaram de ser moda no ocidente, mas permanecer solteiro continua não sendo o melhor caminho. Ainda temos uma noção deturpada de como a solidão (palavra mais feia que solitude) afeta a pisque humana. Somos seres sociais, mas sentimos necessidade, vez ou outra, de permanecer sozinhos. O tribunal do superego é que não deixa.

Imagem promocional de “O Lagosta”

Daí acompanhamos David (Colin Farrell) em sua amarga trajetória, numa distopia em que casar e ter filhos é obrigação. O filme tem seu lado fantasioso, sua faceta cômica e certa dose de niilismo. No final, entretanto, culmina em intrigante ode à liberdade de sentimentos, trabalhando (certo tipo de) amor em sua pureza e rejeitando qualquer sinal de pragmatismo.

Nem que, para isso, sacrifiquemos algum de nossos sentidos…

Her, de Spike Jonze, nos apresenta um retrato ainda mais polido do amor na modernidade. Theodore (Joaquin Phoenix), recém separado de sua namorada, não vê muita motivação na vida profissional e social. Sua perspectiva muda abruptamente quando conhece Samantha (Scarlett Johansson), entidade com exuberante inteligência artificial que oferece algum conforto ao protagonista. Sem muito a perder, ele se entrega em uma ideia de relação que pode ser perigosa para a sua auto estima.

O valor do filme estrelado por Joaquín Phoenix reside na gradual fragilização de uma pessoa desiludida com os próprios sentimentos, distorcendo sua realidade e incapacitando-a de novas socializações. A complexidade de tamanha ternura é tanta que só mesmo um sistema operacional de alta tecnologia para oferecer algum amparo.

Imagem promocional de “Ela” (Her)

As três narrativas destoam muito na estética, no desenvolvimento de personagens e em algumas representações, mas constituem uma interseção. São perspectivas atuais sobre como lidamos com um sentimento tão universal, tão presente na vida das pessoas e nas relações humanas. Não são as mesmas que percebi em Cantando na Chuva ou em Dom Casmurro. São genuinamente derivadas do cotidiano computadorizado e apressado em que estamos submersos.

A discussão não se limita aos filmes citados. São muitas manifestações convergindo nesse ponto. Álbuns como IGOR de Tyler, the Creator, ou séries como Fleabag. Vai ver chegou a hora de celebrar outro tipo de amor. Uma forma menos ambígua e mais urgente. Algo que batizarei momentaneamente de amor próprio.

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